Um Breve Resumo

 

Foto: Munir Bucair Filho

    

    Queria escolher um tema legal para esse primeiro post, pensei em diversas maneiras de como abordar a cerâmica de um modo interessante. Por fim, achei que seria importante, antes de tudo, me apresentar e introduzir o ateliê entorno.


    Meu nome é Julie, sou designer e criei a Entorno Cerâmica em meados de 2014, mas ele ganhou vida física de fato no dia 15 de outubro de 2014.


    O primeiro contato que tive com cerâmica em torno de oleiro foi aos 14 anos. Um breve contato, numa aula de artes da escola. Muitos anos depois, reencontrei as aulas de torno e mergulhei em tardes de aprendizado onde não via as horas passarem e não via a hora de voltar para a próxima aula.


    Talvez essa trajetória inicial nem seja tão interessante, mas a questão é que não posso começar a contar uma história sem uma introdução. Não quero dar a impressão de que tudo começou de forma mágica.


    Depois de passar um ano em aulas aqui em Curitiba, encontrei nas redes sociais um professor que pensei que poderia me ensinar o próximo passo. Eu tinha minhas dificuldades nas aulas, vi minhas colegas já em estágio avançado de aprendizado, enquanto eu ainda estava me batendo no básico (eu conseguia fazer algumas boas peças porém não tinha consistência).


    Fui para São Paulo, conhecer meu novo sensei e, sentada à sua frente, na mesa da cozinha da casa dele, ele começou a falar coisas como: “vidrado”, “temperatura de fusão”, “titânio deixa mais amarelado”, “albita ou feldspato potássico”, e eu não entendi nada. Mas deixei ele falar e ouvi com atenção a fim de tentar salvar algo daquela conversa. Mais tarde fomos ao ateliê, na parte da frente da casa, ele me perguntou o quanto eu sabia, me viu trabalhar para saber o quanto poderia me ajudar, fez uma demonstração, passou uma tarefa e foi fazer almoço. 


    Foi nesse mesmo dia de tarde que tive o primeiro vislumbre de que algo poderia acontecer. Até então, a cerâmica era um hobby, algo que eu gostava de fazer e sobre o que gostaria de aprender mais. Mas nesse dia, com duas palavras e uma demonstração eu aprendi a centralizar a argila e erguer cilindros com consistência. Sem sorte, com técnica e com esforço mínimo.
    
    Passei essa semana toda entre o aprendizado de vidrados e torno, e depois mais 4 semanas em viagens variadas a São Paulo, que eu ia para aprender mais sobre cerâmica, todas nesse mesmo modelo, com o mesmo professor.
    
    Em outubro de 2014, depois de várias conversas com minha amiga que tinha um ateliê montado mas que não tinha tempo para usá-lo, finalmente comecei a produção da Entorno. O ateliê ficava na casa da sogra da minha amiga, e quando comecei a trabalhar ela se animou tanto que decidiu começar também. Ela me emprestou o torno, fazíamos as queimas em fornos alugados e eu vendia minhas peças nas feiras de trabalhos autorais que rolavam na loja de uma amiga em datas especiais.
    
    Aqui vale ressaltar o quanto tive sorte de ter conhecido pessoas que viram potencial e que me apoiaram desde antes que eu mesma visse esse potencial.    
    
    Em dezembro do mesmo ano eu já tinha minha primeira cliente fixa, para quem eu produzia vasos para sua loja de plantas que em breve abriria portas e seria um sucesso.


    Comecei a participar de tudo que podia, todo lugar onde poderia ter cerâmica, eu levava minhas peças. Fiz feiras, apresentei meus produtos para cafés, restaurantes, fiz muitos amigos e minha rede aumentou significativamente, de modo que em menos de 6 meses de ateliê eu já conseguia fazer da cerâmica meu único trabalho.


    Olhando assim pode parecer que foi fácil, porque hoje, 9 anos depois, tem tanto ateliê com aulas, tantas lojas, fornecedores de matéria prima, fontes de conhecimento, fornecedores de equipamentos, mas em 2014 o cenário era bem diferente. 
    
    Em 2016, depois de passar por grandes mudanças na minha vida pessoal, eu decidi dar uma pausa no ateliê. Queria ver mais coisas e aprender mais antes de dar continuidade num processo em que poderia me perder. Escolhi ir para um lugar onde o processo da cerâmica já estava mais na frente. Através de uma amiga virtual, descobri em Londres um coworking de cerâmica, totalmente estruturado, onde eu poderia trabalhar algumas horas por dia e conhecer melhor os processos de outros ceramistas. Chegando lá, era melhor do que eu imaginava. Descobri que vários dos ceramistas que eu gostava estavam trabalhando nesse mesmo lugar. Conheci, troquei ideias e pude participar dos processos de produção de alguns deles e ainda pude vender minha produção na feira de fim de ano do estúdio.
    
    Apesar de amar estar trabalhando nesse lugar, o frio de Londres e suas poucas horas de luz de dia me fizeram pensar que gostaria de estar em outro lugar. Depois de alguns meses fui embora para Barcelona, onde a primavera já começaria a despontar e eu seria muito mais feliz.
   
     Em Barcelona não encontrei nada parecido com o que tinha em Londres. Decidi me matricular em algum curso e por fim, frequentei dois ateliês que gostei muito. Passei poucos meses ali, minha grana tava acabando, resolvi voltar pra casa e retomar meu trabalho na Entorno.
    
    Chegando de volta ao Brasil, encontrei o ateliê da minha amiga a todo vapor, o que me deixou feliz, porém entendi que também logo teria de sair dali para ambas terem mais espaço para trabalhar.
    
    Lembra daquela minha primeira cliente? Nesse ponto ela já tinha virado minha amiga e decidimos juntas abrir um espaço onde teríamos nossos ateliês e uma loja para vender nossos produtos. Foram dois anos de loja e ateliê. 
     
    Prosperamos e logo o espaço ficou pequeno novamente. Desta vez eu sabia que teria de encontrar um espaço só meu. A dificuldade de encontrar espaço ideal me fez dar um passo que seria o mais importante até então. Eu decidi construir um ateliê do zero. Depois de 5 meses de construção, inauguramos em 2019, no nosso aniversário de 5 anos de ateliê. 
    
    Todo mundo imagina como foram os próximos anos. O fatídico ano de 2020 e os anos que seguiram foram loucos. Altos super altos e baixos super baixos. Sobrevivemos e estamos hoje com uma estrutura que nunca imaginaria ter. Ah, vale lembrar que foi em 2020 que nossa equipe cresceu, a Entorno deixou de ser um ateliê onde só eu produzia. Hoje somos um ateliê colaborativo, crescemos em estrutura, pessoas e nossa marca passou por uma mudança bem grande. Continuamos com a mesma intenção lá do início, de trazer consciência através da beleza e da imperfeição, em objetos úteis para o dia a dia.
   
     Eu sou Julie e, através desse blog, quero guiá-los na cerâmica através da minha experiência e do meu olhar.


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