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O dilema do ceramista sobre fazer cerâmica e vender cerâmica

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         Esta sou eu, Julie. Foto: Munir Bucair Filho           Hoje no Brasil o tipo de ateliê de cerâmica mais comum é aquele onde o ceramista desenha uma peça e ela é modelada por um profissional que tem experiência para copiar e reproduzir essa mesma peça em quantidade. Em alguns ateliês o ceramista, dá acabamento e esmalta, em outros, existe um profissional para cada etapa.          A questão é que no Brasil as peças de cerâmica artesanais não são valorizadas suficientemente bem para que o ceramista possa efetuar todas as etapas do processo, pois isso torna cada peça muito mais cara do que se consegue cobrar. Então se recorre ao processo de produção em quantidade, que diminui o custo da peça apenas pelo fato de que se receberá o suficiente para manter o negócio funcionando. Mesmo que a repetição pareça grande, a produção ainda é pequena pois ainda há muitos tipos de peças a se fazer.         Pessoalmente, gosto de participar de todos os processos, inclusive de produção de vidrados

Cuia Entorno

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          Em 2019 lançamos as cuias de mate Entorno em parceria com André Zampier, do Matte N´Roll. Conheci o André muitos anos antes, e essa ideia sempre acompanhou nossas conversas. Por não ter costume de beber mate, sempre acabei achando que seria difícil fazer uma peça sem ter algum conhecimento sobre o assunto.      Quando a proposição surgiu novamente  pensei: se sei pouco sobre isso, vou buscar saber. Fomos, eu e Cauê até São Mateus do Sul, onde André morava na época, trabalhando também na olaria da família. Como esse assunto também nos interessava, juntamos os dois e começamos a projetar as nossas primeiras cuias de cerâmica. Olaria Zampier - São Mateus do Sul      De brincadeira, eu fiz a primeira utilizando somente a argila que é usada para fazer os tijolos na olaria da família. Como previsto, ela ficou super porosa, mas dela conseguimos partir para os protótipos de verdade. Foto da cuia de brincadeira que claramente deu errada      André me explicou que as cuias Gaúchas são

Das dificuldades de ser Ceramista

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  Foto: Munir Bucair Filho           Boa parte das pessoas que conheço hoje que trabalham com cerâmica começaram de forma parecida: um hobby que foi se tornando uma profissão. Comigo não foi diferente. Você começa a fazer, faz peças para amigos e familiares, vende em feiras e quando vê está locando uma sala para montar seu ateliê. Se a pessoa tem dinheiro compra torno, compra forno, equipa o ateliê e começa a produção. Eu, do time de pessoas que não tinha dinheiro, emprestei o torno e o espaço de uma amiga, locava fornos para queimas, até poder comprar os equipamentos e locar meu próprio espaço (levou 2 anos isso). Dois cenários bastante comuns. Começar parece fácil, mas fazer seu negócio crescer e se manter é mais difícil do que parece. Marketing, contabilidade, gestão de processo, gestão de qualidade, cálculo de custos, cronogramas, estoque, site, redes sociais e muito mais coisas que não listei aqui.  Todo mês tem alguém vendendo ateliê completo porque não conseguiu manter a m

Barro até nas paredes

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            Ateliê Entorno 2023           Em 2019, quando já estávamos construindo a casa onde hoje fica o ateliê, eu sonhava com tudo que poderia fazer com tanto espaço que teríamos. Uma das ideias que não me saía da cabeça, era a de fazer a nossa própria massa cerâmica, com características estéticas e funcionais que eu buscava mas não encontrava nas massas disponíveis até então. Procurei pelo mestre Narciso e ele me ofereceu uma consultoria, onde me ensinaria em encontros semanais tudo o que eu precisava saber para formular minha própria massa. O ateliê do Narciso fica em Quatro Barras, município vizinho de Curitiba, na antiga estrada da Graciosa. Para chegar lá, pegava a Régis Bittencourt e na entrada para Campina Grande do Sul, caminhava para o lado oposto.  Foi depois de passar diversas vezes por esse caminho que avistei um barranco de terra vermelha numa bifurcação da estrada. Um parênteses aqui, para dizer que tenho uma conexão grande com a terra vermelha pois, apesar de

Coador Entorno

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  Foto: Munir Bucair Filho / Produção: Ana Spengler  / Ano 2020           Lembra que em 2014 a alta moda nos cafés em Curitiba era o café coado individualmente na mesa para os clientes? O barista trazia toda parafernalha e preparava o café na sua frente. Nessa época foi a primeira vez que vi um coador de cerâmica. Era o coador Hario V60. Como uma pessoa recém inserida no mundo do café de especialidade, me interessei muito, pesquisei a respeito e descobri que era um produto bastante caro para meu padrão de vida. Eu já estava fazendo cerâmica há um tempo e por isso decidi tentar fazer meu próprio coador, afinal, quão difícil poderia ser? Observei atentamente aquele modelo existente e fui para meu ateliê tentar reproduzir algo parecido, mas buscando minha própria linguagem.  Quando ficou pronto, não tinha o filtro correto para testar, pois o filtro, eu lembrava, era em formato de V, diferente do filtro que usava em casa que era o tradicional Mellita. Como era apenas um teste, não quis